sexta-feira, 16 de julho de 2010

Polêmica


Câncer de mama está no alvo da moda sim, como diz o slogan da campanha brasileira, mas também no alvo da polêmica.
O câncer de mama está no alvo da moda sim, como diz o slogan da campanha brasileira, mas também no alvo da polêmica. O primeiro embate entre os especialistas, que envolve justamente uma peça do guarda-roupa feminino, ocorre antes mesmo do diagnóstico da doença, a segunda principal causa de mortalidade de mulheres no mundo e, em muitos estados brasileiros, a primeira (são 40 mil novos casos por ano no país). É possível evitar o câncer de mama ou é a genética a única a dar as cartas?
Segundo pesquisa americana, o sutiã é o grande vilão do estilo de vida moderno e deveria ser queimado em praça pública num manifesto feminino pró-saúde. Eles estudaram 4.700 mulheres de diferentes países e culturas, metade delas com câncer de mama, e descobriram que nas que usam sutiã 24 horas por dia o risco de ter a doença é 75% maior do que nas que andam livres, leves e soltas (de cada 125 mulheres que nunca usaram a peça, uma apenas pode ter tumor). Mas só o fato de não dormir com sutiã já ajuda: mulheres que usam a peça mais de 12 horas por dia e a tiram à noite reduzem o risco para 14%. Já os oncologistas especializados em mama contestam: os hábitos do cotidiano pouco influenciam no surgimento do tumor, o risco de ter câncer está gravado no DNA. O melhor, portanto, é detectá-lo logo.
Especialistas apostam em novas drogas – ao longo da controvérsia, concentram-se os esforços de cientistas e médicos para, a médio prazo, elevar o câncer de mama ao patamar dos males crônicos. Algo comparável, quem sabe, ao que é hoje a hipertensão: uma doença potencialmente mortal, mas controlável com diagnóstico e tratamento precoces. Os maiores especialistas do mundo apostam na evolução da pesquisa genética, dos métodos de tratamento de tumores e dos remédios que evitam as recidivas.
O câncer de mama é um mal associado a vários fatores e um dos mais pesquisados é a herança genética. Alguns especialistas dizem que menos de 4% das pacientes têm história de parentes em primeiro grau com a doença. Já segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de mama de caráter familiar equivale a 10% do total de casos. Menstruação precoce (antes dos 12 anos), menopausa tardia (após 55 anos), primeira gravidez após os 30 anos, nuliparidade (não ter tido filhos), consumo de álcool, vida sedentária e má alimentação são outros fatores de risco.
Sutiãs apertados ou com arame são os piores – as pesquisas mostram que a herança genética aumenta em três vezes o risco de câncer de mama. O estudo quer provar que usar sutiã eleva o risco em cem vezes. Talvez a genética tenha hoje grande relevância numa história familiar porque uma mãe usa muito sutiã e incentiva as filhas a usarem. Se as mulheres querem prevenir o câncer de mama devem parar de usar sutiã ou, se não for possível, evitar os que deixam marcas do elástico na pele, sinal de que estão apertados. Os sutiãs de arame são os piores, pois apertam mais e alteram a temperatura corporal. O exercício é fundamental na prevenção, assim como uma dieta saudável. As jovens não devem ser encorajadas a usar sutiã: a pressão no seio impede o desenvolvimento natural da mama, garante alguns especialistas.
Prevenção passo a passo
- Sutiã > Para alguns médicos, as mulheres não devem usar sutiã. Se a peça for indispensável, o ideal é passar o mínimo de tempo com ela, nunca dormir e evitar as que mais apertam ou deixam marcas no corpo. E nunca usar os sutiãs de arame, que interferem no fluxo linfático e alteram a temperatura corporal. O mais importante é o conforto da roupa. Meninas não devem ser incentivadas a usar sutiã: a pressão altera o formato das mamas.
- Exercícios > Alguns especialistas recomendam o exercício para melhorar a circulação linfática. O governo do Canadá implementou programa que incentiva as mulheres a terem um pequeno jump (cama elástica) em casa para pularem diariamente. Todas as atividades físicas ajudam a melhorar a circulação sanguínea.
- Alimentação > Médicos incentivam uma alimentação rica em frutas, legumes e azeite de oliva (rico em ácido graxos ômega-9), que protege contra o câncer de mama. Pesquisas mostram que consumo de óleo de peixe, repolho, couves, feijão, soja, peixe gordo (rico em ácidos graxos ômega-3) têm função protetora contra a doença. Gorduras saturadas e produtos ricos em ácidos graxos ômega-6 (óleos de milho, açafrão e semente de girassol) aumentam o risco.
- Massagem > Especialistas americanos recomendam auto-massagem nos seios, pelo menos duas vezes por semana, para proteger contra o câncer. O hábito melhora a nutrição celular a ajuda a remover toxinas via linfático.
- Testes genéticos e medicamentos > Segundo o mastologista Paulo Maurício Soares Pereira, mastologista do Centro de Estudos e Pesquisas da Mulher – Cepem, o uso de aspirina e drogas antiinflamatórias não-esteróides (como o ibuprofeno) pode reduzir o risco de câncer de mama. A prevenção primária costuma ser feita com a droga tamoxifeno ou a cirurgia (adenomastectomia) com implante de prótese de silicone em mulheres de alto risco. Estes procedimentos só são indicados em Alguns casos, como quando há predisposição genética.
Diagnóstico > Auto-exame, consultas médicas e mamografias > O auto-exame das mamas só identifica nódulos maiores. Daí a importância da consulta ao ginecologista. As mulheres devem ficar atentas a nódulos endurecidos e fixos na mama ou na axila: secreção com sangue ou líquido transparente pelo mamilo; calor, inchaço e vermelhidão na mama. Caso haja alguma suspeita na mamografia e/ou ultra-som o médico pode pedir o exame de core biópsia (retirada de pequena amostra de tecido por meio de agulha especial acoplada a uma pistola guiada por ultra-som ou tomografia). Outra opção é a mamotomia, feita em aparelho de estereotaxia digital.
- lavagem dos ductos > O médico injeta por meio de agulha fina soro fisiológico nos ductos mamários. Ao ser aspirado, o líquido traz células para exames. Segundo Paulo Maurício Soares do Cepem, o exame está sendo feito em poucos centros, é experimental, tem grandes chances de não dar certo, é muito desconfortável e doloroso.
- Ultra-som e ressonância > A mamografia pode ser associada ao ultra-som. A ressonância magnética também é útil. O mastologista e diretor do Cepem Henrique Alberto Pasqualette diz que a mamografia digital com Detecção Inteligente (DI) é um método mais moderno para ajudar no diagnóstico do câncer.
O bem estar dos pacientesÉ uma das grandes metas dos especialistas e conquistas já podem ser comemoradas, principalmente nos avanços do tratamento. A análise do linfonodo sentinela (primeiro a receber drenagem linfática e ser afetado quando o tumor está se disseminando) pode evitar cirurgia mais complexa de esvaziamento da axila. O mastologista Paulo Maurício diz que antes retirava-se todos os gânglios linfáticos. Hoje injeta-se tecnécio, substância corante ou radioativa. Se o linfonodo não estiver com câncer, não se esvazia a axila. A radioterapia intra-operária (dose única na cirurgia) livra a paciente de aplicações no pós-operatório.
Remédios para evitar recidivasSem as drogas que evitam a recorrência da doença, para depois que o tumor inicial foi tratado (cirurgia, quimioterapia ou radioterapia), há um risco de quase 50% de retorno da doença nos dez anos seguintes. Para evitar as recidivas, a maioria das pacientes que tiveram tumores com receptores positivos (sensíveis à ação de hormônios como estrogênio e progesterona) e entraram na pós-menopausa (natural ou provocada) é tratada com drogas antiestrógeno. O tratamento padrão é com tamoxifeno nos primeiros cinco anos, mas estudos mostram que há risco de 15% de retorno da doença em cinco anos e de 25% em dez.
Mitos e verdades
- Pílula anticoncepcional > Para alguns especialistas, não há evidências de que a pílula anticoncepcional aumente o risco de câncer de mama. Para o Inca, ainda é controversa a associação de contraceptivos orais com o aumento de chances.
- Reposição hormonal > A terapia de reposição hormonal (TRH) aumenta em até 40% o risco de câncer.
- Desodorante > Não há relação entre o uso de desodorante e câncer de mama, segundo especialistas.
- Lesões benignas > O mastologista Paulo Maurício diz que não há relação direta entre lesões e rumores benignos (como fibroadenoma) da mama e câncer. Mas essas doenças devem ser investigadas. Para alguns médicos, a doença mamária benigna aumentaria o risco apenas em pacientes com maior quantidade de canais lactíferos.
- Prótese de silicone > Segundo o mastologista Henrique Alberto Pasqualette, diretor do Cepem, as próteses de silicone não causam câncer, mas dificultam um pouco o diagnóstico precoce devido à menor sensibilidade da mamografia.

Autor: Matéria feita por O Globo

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